O momento atual de Fernanda Young é uma “despedida de casado”. Após gravar os últimos episódios do talk show “Irritando Fernanda Young”, que apresenta há cinco anos no canal pago GNT, ela se prepara para embarcar em novos projetos.
Entre eles, estão a gravação de um reality show de turismo, a adaptação de seu último livro (“O Pau”) para o cinema, sua autobiografia e a reedição de seus nove livros pela editora Rocco.
O reality show “Duas Histéricas” conta a história dos conflitos encontrados por duas amigas durante viagens e será estrelado por Fernanda e pela atriz Camila Machado, sua assistente há anos.
“Viagem é um momento muito bom de conflito, de briga, de crise, de término. Toda vez que eu viajo com o Alexandre [Machado, o marido, com quem escreve todos os roteiros] para Disney eu penso categoricamente: “Eu vou me separar desse gordo escroto. Nesse nível”, conta.
O primeiro programa será gravado no mês que vem na Tailândia, aproveitando a viagem das duas para o casamento de um casal de amigos gays.
Leia abaixo trechos da entrevista.
Folha – Como foi a decisão de acabar com o programa?
Fernanda Young - Você tem que sair no momento em que você poderia ficar mais, bem mais. É igual festa, namoro, casamento, tudo dessa ordem. Evita o desgaste. Eu encerro o “Irritando” sem nenhum motivo de conflito, sem nenhuma razão absolutamente necessária. Simplesmente eu acho que se eu me permitir a continuar fazendo mais, eu posso ter a minha alegria roubada e posso realmente começar apenas a utilizar uma fórmula que pra mim já é conhecida, e isso me amedronta muito.
O que te amedronta? Usar uma fórmula?
É, ninguém vai para o programa para divulgar nada. As pessoas podem mostrar aquilo que é comum aos seres humanos, como a irritação ou o amor. Quando a gente admira muito uma pessoa, tem a impressão de que ela está sempre incrível, porque ela nunca reclama de nada.
Você não vai sentar e falar: “Cara, é um saco você ter que ir pra uma cidadezinha, depois outra, lançar livro e não sei o que”. E um programa que você pode ir e revelar as condições de trabalho que não são tão incríveis é muito interessante. Eu jamais poderia entrevistar alguém que eu não tivesse interesse.
Quem?
Eu sou uma pessoa muito interessada pelo humano, mas pelo artista nem sempre. Não me interessaria saber sobre o trabalho de um cantor sertanejo, por exemplo, porque eu ia ficar: “Mas você vai lá e canta com aquela vozinha…?” Sabe? O que eu ia dizer? Sei lá.
Tem Vitor e Wolf… essas duplas. O que eu ia falar… Vitor e Wolf eu acho que é até uma dupla de designers, eu estou confundindo tudo. Não tem? [diz, às gargalhadas, confundindo a dupla sertaneja Victor & Leo com os estilistas Viktor & Rolf]. Entretanto, eu não gosto de axé music e entrevistei Ivete com muita curiosidade, porque eu acho ela uma máquina, uma show woman, e eu admiro o trabalho dela.
Quem mais você gostou de entrevistar?
Tem pessoas que foram surpreendentes, uma delas é o Ary Fountoura. Eu sempre gostei dele, me lembro de ter visto coisas que ele fez quando criança, como “Saramandaia”. Mas eu não sabia como ele era. E eu morri de rir, ele é muito engraçado, doido, anárquico.
Ney Matogrosso me impressionou muito, porque é muito bonito e sedutor. É um homem que tem uma idade que não parece ter e é híbrido, não tem sexo algum, mas é excitante. Eu até achei que me apaixonei por ele.
Cauã Reymond, eu não sabia que ele era tão inteligente. Porque meu, um cara lindo, galã da Globo. Eu falei: “Boring” [chato, em inglês]. [Ele é] interessantíssimo, rápido, engraçado, inteligente, doído, com conflitos, digamos que ele não está ausente da complicação que ele se meteu.
Quem não entrevistou e gostaria de entrevistar?
Roberto Carlos, Xuxa, Caetano Veloso –que eu convidei várias vezes e nunca aceitou, fico magoadíssima. Não sei por que, mas eu fico magoada [ri]. Caetano foi a primeira pessoa que eu convidei, insisti muitas vezes e vou continuar insistindo. Mas é uma pessoa que eu gostaria de entrevistar, principalmente no tema irritação, eu acho que ele teria muito a oferecer, já que eu acho que ele é uma “musa” inspiradora pras minhas irritações e pros meus devaneios com a imprensa. Ele faz bem pior do que eu.
Faria outro programa de televisão?
Eu nunca pensei que eu me tornaria uma boa entrevistadora como eu me tornei, e taí uma coisa que eu não quero abrir mão. Mas eu não aceito fazer qualquer coisa, porque as pessoas são inteligentes. Qualquer ideia de que o público em geral é burro é paternalismo.
Nunca oferecemos [ela e Alexandre] nada pra agradar e fazer sucesso através da burrice. Eu odeio essa descrição de público A, B, C e D. Acho grosseira, elitista. Não me considero “cult”, não me considero elite. Faço apenas o que gosto, porque não abro concessão. Isso gera problemas, porque obviamente eu poderia trabalhar mais, mas não dá pra ser diferente.
E essa história de estar comprando equipamentos…
Eu comprei uma câmera incrível, muito boa, comprei microfones de lapela, comprei tudo. Juro. Estou num momento meio fanzine, sabe? São muitos anos fazendo [programas] com eficiência, com equipes incríveis. É claro que eu nunca vou fazer uma coisa com som ruim, uma coisa feia, obviamente vou estar sempre as voltas com pessoas que eu considero talentosas.
Você quer fazer as coisas sozinha, então?
Quero, quero sim. Eu pretendo adaptar “O Pau” [seu último livro] pra cinema para internet. Vou chamar dois atores, provavelmente vão ser dois bons atores. Eu sei adaptar, sei fazer diálogo pra ator, porque sou formada em artes cênicas, sei mastigas as palavras pros atores fazerem de forma melhor. Talvez seja o meu momento Glauber Rocha, uma câmera na mão e uma idéia na cabeça [diz, se referindo a célebre frase do cineasta].
E os livros?
A Rocco vai relançar todos os meus nove livros, eles me deram esse presente que é poder acompanhar a parte gráfica, junto com a diretora de arte da editora. Estamos fazendo uma coisa muito sofisticada, muito bonita. Vão começar a lançar já nesse ano, os primeiros serão “Cartas Para Alguém Bem Perto” e “O Efeito Urano”.
O décimo livro, que eu já estou escrevendo, é “Acho que Foi Assim”, minha autobiografia não-autorizada. Isso parece muito cínico, uma pessoa com 40 anos de idade escrever uma autobiografia. Para os implicantes vai ser mais um presentinho.
O título quer dizer que eu estou sujeita a estar totalmente errada. Já falei muito isso com a minha terapeuta. “Mas será que não foi assim e eu sou um espírito de porco e to pensando que foi assim?”. E a questão é que não, se você sentiu assim e lembra como dessa forma e acha que foi assim é porque é assim. Não vou me poupar, porque não tenho interesse nisso, mas vou poupar muita gente.
Carol Nogueira
Folha Online
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